Povo que levas no rio

Sou um poeta do povo
Que ao povo foi parar
Povo que lavas no rio
Leva-me a mim a lavar.

Porque um poeta do povo
C’o povo vai versejar
Queremos um mundo novo
Que não dê trabalho a lavar.

Passar uma vida inteira
Sem máquina de lavar
É cá uma trabalheira
Andar no rio a lavar.

E quem no rio lava
Ao mar pode ir parar
Sua sepultura cava
Nas ondas do alto mar.

Ao menos tivesse um tanque
Mas que não fosse militar
E com a sua força arranque
P’ra uma batalha travar

Contra toda a sujidade
Pôr a roupa a branquear
É uma luta sem idade
Que o povo leva a cantar.

E se a cantar a vida leva
A cantar a vida lava
Não há povo ao cimo da terra
Que mais sepulturas cava.

Triste destino o nosso
No rio e no mar sem ser marujo
Se o povo morre a lavar
Mais vale então morrer sujo.

Porque este povo teimando
Que há-de lavar no rio
Desgasta-se vai-se findando
Com a vida por um fio

E se por um fio vive
Com um fio d’água lava
Esta vida num buraco
Que a gente a lavar cava.

Mais vale esquecer a brancura
De viver sempre nas margens
Há quem queira uma ditadura
Que o afaste das lavagens

E assim se abafa o desejo
do corpo tremendo de cio
vamos antes esfregar a roupa
nas margens do nosso rio.

1 comentário: