Não há poesia

Esta quadra enforcada
Foi à força retirada
Da minha imaginação.
Pois estava mais a minha amada
Em noite já bem jantada
E sem alma de versejão.

Mas, senhor, queria ela poesia
Que lhe compensasse a agrura do dia
E tanta agitação.
Porém, isso ele não queria
Pois para ele a poesia
Já lhe causava comichão.

E respondeu-lhe mal inspirado
Para ver se a calava:
Que se fosse versejar
Ficava o caldo entornado
E nunca mais com ela jantava.

«E nem que para aí praguejes
E ameaces que te matas
A minha boca não se abrirá
As quadras são umas chatas.
E as palavras são sarnentas
Apegam-se-nos às ventas
Não se lhe pode fugir.»

Assim, em vez da poesia
Veio a noite e foi-se o dia
E foram mas foi dormir.

2 comentários:

  1. Oh Deus...este será um dos resultados de quem espera demais por um jantar...
    A escrita é o grito das palavras que não foram ouvidas...pela cozinheira...

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